- Olá, Fact. Bom tê-lo de volta ao nosso programa. Sua primeira entrevista foi em março. Tem muito tempo...Como você vê os mercados nesse momento?
- Wall St. está fazendo um fundo "aproveitável", a tradable bottom como dizem os yankees. Contudo, seria conveniente fazer algumas ressalvas aos investidores de Pindorama. A correção (quase óbvia) nas commodities, sugerida por mim em um post, pode ser mais expressiva do que se supunha. O mercado brasileiro é lagging nesse fundo. Basta observar que os demais emerging markets já deram sinais de compra e Brazil, não. A mídia só noticia outperfomances do Ibovespa.
- A propósito, por que seus posts às vezes são meio evasivos? Você não poderia ser mais direto?
- O objetivo do blog não é fornecer calls de compra e venda. É tentar chamar a atenção para o lado sério da technical analysis, mostrar que é possível acertar boa parte dos grandes ou pequenos movimentos do mercado. E deixar claro que o que se comumente vê em fóruns e chats diários com gurus de corretoras é o lado circense, comercial dessa filosofia de investimento, pois essa é uma ferramenta de acompanhamento e não de previsão.
- Qual a conseqüência disso para os novos investidores?
- Tenho percebido duas principais. A primeira é o prejuízo em operações com baixa probabilidade de sucesso e dezenas de stops acionados. E a segunda: abandonam completamente a análise técnica como se fugissem do diabo e se atracam com o fundamentalismo ortodoxo, como se um filosofia desdissesse a outra. Na verdade, se complementam, ainda que os technicians ortodoxos, claro, discordem.
- Ainda sobre seus comentários...Você acertou um topo nas commodities enquanto ainda estavam subindo, não?
- Procuro me antecipar aos movimentos, sempre. Os analistas mais conhecidos falam o óbvio depois que o movimento já se concretizou. Procure na internet algum analista brasileiro ou não que tenha apontado um topo no Crude Oil entre 145 e 150 dólares antes dele ocorrer como eu fiz. Não encontrará. Um call desse vale pelo menos algumas centenas de dólares. Mas é bom frisar que a princípio vislumbro pontos de inflexão. Se é uma mudança de tendência ou uma reversão não é possível saber. Se bem que se o sentimento estiver em níveis extremos dá pra apostar em reversões com alta probabilidade de sucesso. O topo no Crude Oil foi um bom exemplo.
- Gostaria de dizer algo mais?
- Algumas...primeiro que achei legal ver o primeiro acesso de um internauta da África, alguém da Universidade da Cidade do Cabo. Outra coisa: estou ficando impressionado com o nível apelativo das corretoras. Agora há um ex-jogador de futebol fazendo propaganda de homebroker e a maior fabricante nacional de baralhos anunciando seus produtos voltados para os jogadores de poker. É...o investidor por aqui está bem assessorado. rsrs
8 comentários:
Sobre mudança nos preços, seguida de mudança nos fundamentos, talvez eu possa acrescentar um lado da história que fica oculto aos técnicos, bem como à maioria dos fundamentalistas...
Creio que o movimento dos preços que antecipa uma "mudança nos fundamentos" possa ser, de fato, ANTECIPADO por um investidor fundamentalista e sem info. privilegiada.
Mas só... se houver um conhecimento realmente fundo sobre a empresa e setor, é possível antecipar tendências longas, quase certas, embora invisíveis à maioria dos fundamentalistas.
Tive a saborosa oportunidade de fazer isso algumas vezes. Por exemplo, comprando alpargatas em 2003. Era clara como água a recuperação da renda dos pobres bem como fácil de esperar o efeito do marketing bem feito. Mas isso só era visível pra quem conseguia olhar bem atentamente. Mesmo assim, lembro-me de ver o papel subindo antes dos resultados.
Ou - quando refiz o demonstrativo da Coelce inteiro (após reajuste) e postei lá no grupo. Os preços caíram meses antes da real "mudança de fundamentos" e continuam baixos. Eu não posso dizer que não esperava a queda, após ver quais seriam os "fundamentos" daí a um ano...
Suponho que como a liquidez era baixa, pouca gente com dinheiro era o suficiente pra subir o papel...
Claro que outras MUITAS vezes parece ser informação privilegiada pura.
E outras tantas, como na Cosan, sobe como um raio, pra depois cair como um tijolo. Isso não seria um caso em que os preços em vez de antecipar os fundamentos, contrariam-nos, depois pagando a inevitável conta?
Eu diria que os preços antecipam a publicação das mudanças de fundamentos, entre outras coisas.
Uma hipótese é que os investidores institucionais, fundos de investimento e outros grandes acompanham de perto seus investimentos, e assim conseguem acompanhar de perto as mudanças nos fundamentos e fazem valer sua vantagem competitiva. Claro que para conseguir isso não basta apenas ler os balanços, mas é preciso acompanhar de perto o dia-a-dia das empresas!
Se for isso mesmo, ambas as observações estão corretas...
1. Outro dia comentei que technicians dependem dos fundamentalistas. Isso é claro, pois estes são os únicos dispostos a se arriscar quando o cenário de price action é declinante. Os bottoms são feitos por insiders, por conhecedores do setor, por bancos que acompanham o dia-a-dia da empresa, etc. Esse seu conhecimento aplicado a Alpargatas poderia ser aplicado a uma empresa do setor de varejo decentemente gerido e é uma boa jogada em inícios de ciclos expancionistas. Aqui, nos EUA ou em qualquer lugar onde exista uma economia de mercado.
2. A observação sobre a Cosan é muito oportuna e aí que vou contra o ortodoxismo técnico. A recente alta de CSAN esteve (coincidentemente?) ligada a rumores de que Bush iria derrubar direitos de salvaguarda ao álcool brasileiro. Não teve a ver com melhorias consistentes do setor ou operacional da Cosan. Ora, o mercado sempre precifica a expectativa de mudanças e não as mudanças em si. Se ela não se concretiza, o price action geralmente se desfaz tão rápido quanto subiu. Isso é muito comum. Um AT ortodoxo diria que basta comprar uma uptrend, mas isso é a meu ver tão eficiente quanto apostar em um cara-ou-coroa.
Fact , mas afinal vou conseguir comprar Petr4 em 33? hehehehehe.
Market vane, II com pessimismo lá fora.
O x da questã é que aqui em Pindorama o cara vai prá imprensa, olha no retrovisor, comenta somente e exclusivamente o que aconteceu e vira analista.
Não enxergam um palmo diante do nariz, não antecipam nada, mas como é parte do game show 'fritamento de sardinhas', fica tudo em casa.
"A alta... não teve a ver com melhorias consistentes do setor ou operacional da Cosan"
De fato, Fact, não teve melhoria consistente do setor ou da Cosan... mas as pessoas em geral estavam "percebendo" melhoras que não existiam, além das expectativas. Estavam enxergando fundamentos onde não havia muitos... isso além das expectativas que vc mencionou.
mr. Fact,
Não tenho conhecimento para comentar com propriedade o exemplo da Cosan. Mas é fato que os preços mudam devido à mudança nos fundamentos, às expectativas de mudanças nos fundamentos e também motivos alheios aos fundamentos. Quando eles mudam por conta de um dos dois primeiros motivos, é um problema do tipo ovo e a galinha de descobrir quem "enxergou" primeiro, mas por definição o motivo é o "fundamentals", e não o "price".
Leo, mais ou menos por aí. Como diz Tudor Jones, "prices lead fundamentals". Os preços embutem a expectativa de mudança e não ela em si. Hussman tem uma avaliação que acho mais completa. Diz que cada movimento de preço é formado por dois componentes: um de aversão a risco e um de alteração de fundamentos. Mas nunca é possível saber o que é o quê. rssr
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